segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ritmos circadianos e comportamento alimentar





Matéria publicada no Jornal Alto Petrópolis n°256, em agosto de 2010, sob minha autoria.


O comportamento alimentar é complexo e envolve aspectos metabólicos, fisiológicos e ambientais, que apresentam ritmicidade circadiana. 

Os ritmos circadianos são aqueles que apresentam um período de 24h, como, por exemplo, o ciclo sono-vigília. A espécie humana é essencialmente diurna, sendo que existem pessoas que possuem maior rendimento no período da manhã, denominadas matutinas, e outras no período da tarde, as vespertinas. Quando há distúrbios do ciclo circadiano, ocorrem diversas alterações, como déficits de atenção, concentração e desempenho no trabalho.  

Também apresentam grande importância no comportamento alimentar, pois influenciam na secreção de vários hormônios regulatórios. Uma desordem nestes ritmos pode gerar o desenvolvimento de transtornos alimentares, como a Síndrome do Comer Noturno e o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica, sendo associados, em muitos estudos, com IMC elevado, humor deprimido, estresse e ansiedade. 

A restrição do sono por alguns dias é o suficiente para haver o aumento nos níveis de glicose e a diminuição da ação da insulina, sendo então um fator de risco para o desenvolvimento de diabetes. A privação do sono também resulta em níveis menores na produção de melatonina e leptina (responsável pela saciedade), aumento dos níveis de grelina (responsável pela fome) e do cortisol (regulador do estresse físico), e por isso tem como conseqüência o aumento do apetite.  

Alguns comportamentos, incluindo a ingestão energética, variam em nível e intensidade ao longo do dia. Estudos mostram que a quantidade calórica das refeições e os níveis de saciedade diminuem durante o dia e sugerem que ingerir um valor calórico maior pela manhã pode resultar em uma diminuição da ingestão total diária, enquanto a ingestão de uma grande quantidade energética à noite pode resultar em um aumento total. 

No padrão alimentar noturno há a preferência por alimentos mais calóricos, principalmente por trabalhadores, que têm um grande consumo de lanches rápidos neste período. Sabe-se que há um aumento no consumo de carboidratos neste horário, o qual está associado à elevação dos níveis de serotonina (sensação de prazer), resultando em uma maior facilidade para dormir.  

Portanto, a disfunção circadiana hormonal e problemas provocados pelas alterações de horários no ciclo sono-vigília influenciam o apetite, a saciedade e, conseqüentemente, a ingestão alimentar, o que parece favorecer o desenvolvimento de transtornos alimentares. Devemos estar atentos a estes distúrbios e, se necessário, buscar tratamento com profissionais habilitados. 


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